Então, li o famoso artigo na revista "The Economist" e também vi as 14 páginas da reportagem sobre nosso querido Brasil, que na opinião deles é maior história de sucesso na América Latina.
Vou ser sincera, não li tudo ainda, mas o suficiente. Como já faz dois dias que não escrevo no blog, sinto a necessidade de escrever sobre o assunto. Por isso, ainda que incompleta, esta análise pretende somente ser o começo de minha resposta sobre o artigo.
Começo repetindo alguns dos comentários que deixei no Twitter após ler a versão online do artigo. Para os que ainda não leram o artigo, aqui está o link da história tirado direto da fonte. Vale a pena ler o original em inglês, os comentários são priceless!
[Falando em preço... acho um absurdo o preço da revista no Brasil. R$24.90? Really? Esse não é o valor de um livro no Brasil? Aqui a mesma custa apenas $6.99. Para ver os dois artigos publicados em português sobre a matéria da revista americana, clique aqui e aqui]
Enfim, voltando às minhas primeiras impressões do artigo. Bem feito, este artigo não se assemelha a muitos que vejo por aí (escritos pela própria revista) sobre a América Latina que são clueless, ou seja, não tem noção. O artigo realmente faz justiça à reputação da revista. No entanto, há muitas coisas alí que são questionáveis.
Por exemplo, a revista diz:
"And, in some ways, Brazil outclasses the other BRICs. Unlike China, it is a democracy. Unlike India, it has no insurgents, no ethnic and religious conflicts nor hostile neighbours. Unlike Russia, it exports more than oil and arms, and treats foreign investors with respect. Under the presidency of Luiz Inácio Lula da Silva, a former trade-union leader born in poverty, its government has moved to reduce the searing inequalities that have long disfigured it. Indeed, when it comes to smart social policy and boosting consumption at home, the developing world has much more to learn from Brazil than from China."Vejo alguns problemas aí. A revista diz nele que o Brasil em algumas maneiras supera os outros países que compõem o BRIC. Em muitos aspectos tem razão. Mas onde vejo grandes pontos de interrogação é quando afirmam que somos uma democracia, que tratamos os investidores com respeito e quando elogia nosso atual política social.
Primeiro, claro que somos democracia, e não comunismo, como na China, no sentido técnico da palavra. Mas não sei, não. Não fica muito claro pra mim como pode o Brasil ser um país democrático se nele há tanta desigualdade e injustiça, mantida através da manipulação e roubo constante de seus governantes e elite dominante que apóia a censura e manipula os votos com projetos sociais. Mas, enfim, deixemos para discutir esse assunto mais tarde.
Continuando, o segundo ponto, é que dizem que o Brasil trata os investidores com respeito e elogiam a smart, esperta, política social. A revista reconhece em outro parágrafo de seu artigo que há muitos problemas no Brasil, principalmente com corrupção. Li a conclusão do reporte, e lá a revista se justifica dizendo que não fala mais sobre esse assunto pois afinal é uma revista de economia. Tem razão, não tem obrigação de tocar no assunto. Porém...
De fato, a revista não é sobre política, nem deve ser, e não é que eles ignorem na sua reportagem o lado político, mas que subestimam grandemente a questão. E com isso, a capacidade de nosso povo em dar a volta por cima. "Huh? Do que você está falando?", vocês devem estar se perguntando. Logo mais vou tentar explicar a relação, mas por enquanto quero voltar ao que a revista diz no parágrafo acima.
A revista, como mais um meio de comunicação, usa de sua reputação e prestígio, mesmo que muitas vezes desmerecido, para promover ideias. A economia não é assunto qualquer. É assunto díficil, complexo e não é pra qualquer um. Mas tomar decisões econômicamente acertadas em um país mudam o destino das pessoas. É de interesse de todos.
Por isso, o The Economist, não perde a oportunidade para incluir no meio de sua séria e excelente análise, frases como essas que são duvidosas. Sim, porque apesar de ser verdade, é uma verdade mascarada de intenções não tão óbvias para a maioria que as lê. Quando diz que o Brasil trata os investidores com respeito, é também uma forma de reforçar os forecasts que eles e outras agências de rating já fazem. Assim, se trata de uma self-fulfilling prophecy. Não é uma profecia que se cumpre por casualidade mas por causalidade.
É muito conveniente para eles demostrar entusiasmo com o fato que o Brasil tem os braços abertos aos investidores estrangeiros. Claro. Não sou contra o investimento estrangeiro, e confesso que pouco sei sobre os efeitos de uma ou otra política econômica. Nunca tomei sequer uma aula de economia, mas basta-me ler notícias sobre a situação econômica das empresas nos EUA diariamente e ver o colapso causado pelo abuso das mesmas sobre o governo para sentir muito medo dessa relação, que parece-me mais ser um romance, entre o Brasil e os EUA.
Claro que os inverstidores estrangeiros e o governo do Brasil facilita o cortejo, a paquera. Existem múltiplos benefícios; a maioria deles, econômicos. E se alguém se pergunta de onde veio tanto "interesse", para "influenciar" o Comitê Olimpico e a opinião mídiatica internacional vista recentemente na propagação de notícias sobre o sucesso brasileiro, não é díficil imaginar de onde, né? O Brasil segue sendo o mesmo que sempre foi, só que agora ele é financeiramente atrativo.
Não são só as empresas e empresários estrangeiros e investidores que estão faturando a mil no Brasil. A smart policy, ou política esperta, aliás, espertíssima, de nosso governo atual, que se diz de esquerda, é realmente de se louvar. Conseguiu melhorar a reputação do país dentro do país e fora dele pois ao tirar indivíduos da extrema pobreza, ele também conseguiu elevar o nível de "classe média", uma grande massa de individuos que vivia na pobreza. Agora, estes vivem, não na pobreza, mas na ilusão de uma vida melhor. O poder de crédito que estes recebem e a grande capacidade de enriquecer não somente os bancos, mas as indústrias de consumo são realmente motivos para qualquer economista elogiar. É realmente uma "benção".
Realmente não há nada de errado nisso. Afinal, se a economia se fortalece com o consumo, supostamente, também se fortalece nossa situação individual. No entanto, a própria revista, em seu reporte especial faz menção às semelhanças entre o Brasil e os EUA. Sob o aspecto consumista, estamos à caminho da prosperidade. Mas como o Brasil parece ter essa atitude de irmão menor acomplexado pelo sucesso do irmão mais velho, ele tenta seguir os mesmos passos deste. Só que debochando, buscando se dar bem, fazendo as coisas diferentes, e no fundo, no fundo, se desvaloriza, esquece-se de suas próprias qualidades e peca por valorizar exatamente o que há de pior na atitude de seu irmão maior.
É. O artigo traz algumas pérolas. Entre as melhores, a que a vitória do governo atual provêm do anterior e o elogio ao governo atual por manter o sistema econômico criado anteriormante. Mas assim também, como essa e muitas outras excelentes análises sobre nosso país, o artigo demostra, uma e outra vez, que o que mais teme é que o Brasil alce vôo. É por isso que não trata das questões negativas com a seriedade que deveria. A verdade é que o Brasil tem potencial, sempre teve, de ocupar o lugar americano no mundo. Claro, que não o fará tão logo e não do jeito que vamos ao querer copiar atitudes americanas. Afinal, nada vejo nada louvável em imitar o papel mais tirânico do imperialismo moderno.
Não é à toa, nem é errado dizer, que o maior desafio para o Brasil é a prepotência. Afinal, esse foi o caminho tomado pelos EUA. É esse o caminho do governo atual à seus próprios cidadãos. Como dizem pela América Latina, se les subio el humo a la cabeza. Ou seja, estão se achando. Sim, esse é um "perigo" sim. Já que somos conhecidíssimos pela tolerância e simpatia de nosso povo. Tolerância que às vezes é até demais, pois continuamente deixamos pra lá coisas que não deveríamos, em nove de viver uma vida 'tranquila'. Pena que não concorde com que esse seja o maior desafio. Pra mim, o motivo real pelo qual a revista astutamente aponta esse como maior risco é por que teme o avanço real do Brasil.
A revista sabe bem que o Brasil é um grande tesouro, assim como pedra preciosa, que nunca foi polida, nosso país, é fonte inimaginável de riquezas. Eles mesmo dizem isso ao mencionar nossa criatividade e estão tranquilos, pois pensam que no Brasil não teremos mais uma segunda 'Embraer', ou que não sejamos capazes de criar 'Harvards', ou uma empresa que chegue aos pés da gigante Google. Se arriscam a fazer tal previsão porque evitam falar sobre o problema principal, que é a causa de nosso atraso.
Volto, uma e outra vez, a pensar, que a revista errou. Falhou mesmo em não discutir com mais detalhe os grandes problemas que existem no nosso país. Nem sequer se deram o trabalho de descrever os desafios, simplesmente mencionaram uns poucos, dentre eles o problema da corrupção, da educação e de nosso sistema juridico, por exemplo.
Concordo que realmente não pertence à análise, e nem é assunto da revista, mas em perspectiva, faria muito mais sentido não ignorar tais problemas. Mas claro, isso não é conveniente nem pra eles, nem para o Brasil. Ao invés, falam sobre ilusões. Dizem:
"The country has established some strong political institutions. A free and vigorous press uncovers corruption—though there is plenty of it, and it mostly goes unpunished."Eu não entendo a qual forte instituições políticas eles se referem: a do governo atual, aquela que apóia os Collors, Sarneys, e milhares de outros sangue-suga da vida? A impressa é livre? Como assim? E o caso do jornal O Estado de São Paulo e os de vários blogs de respeito, como A Nova Corja, que se vem obrigados a ficar calados quando procuram revelar casos de corrupção. Parece-me que isso é censura. Um sistema político forte? Faça-me o favor...
Essa é minha grande crítica ao artigo. Vale a pena ressaltar que o reporte contém uma análise profunda, com contribuições valiosas de diversos especialistas de respeito no Brasil e no mundo. Mesmo assim, creio que, ao erroneamente reportar e ignorar os graves problemas encontrados, principalmente nas instituições políticias e na falta de uma imprensa livre, isso desvaloriza em parte a matéria.
Sem uma análise que leve mais em consideração esses aspectos, onde números e estatísticas, e história, seja tão importantes quanto questões humanas, os economistas aumentam ainda mais suas chances de erro ao retratar o presente e possível futuro de nosso país.
Talvez por refletir uma verdade conveniente, talvez pelo pensamento equivocado que o lado social não vá influenciar os investimentos, ou talvez ainda, pelo temor, que estes venham a influnciar demais, é que a revista ignora estas importantes questões. Pois afinal, foi através da indiferença aos problemas sérios que vemos hoje nos EUA a grave crise econômica.
Mais ainda é cedo. Não terminei ainda de ler todas as 14 página e como disse anteriormente, pouco sei sobre macro ou micro-economia. É por isso que me dispus a começar o dialógo.
Pretendo escrever um artigo em inglês com o lado político do Brasil e enviar à revista. Nesse aí, o Brasil provavelmente decola, mas corre o risco de explodir logo após o lançamento.
Muito bom seu artigo, sobre a matéria da Economist.
ReplyDeleteAcompanho você no twitter (@Frodobal) e agora vou segui-la aqui no blog!
Bjão
Boa semana!
Thanks a lot, Frodo!
ReplyDeleteVou escrever mais sobre o assunto em breve.
Um grande abraço de New York!!! ;)
Simone