Sunday, November 8, 2009

An Education, a good Education.

Uma Educação, uma boa Educação.

O outro dia vi um filme britânico chamado An Education baseado na autobiografia de uma jornalista inglesa. O filme me fez pensar em várias coisas, quero dizer, relembrar várias coisas, erros que a gente comete quando ainda não sabe bem diferenciar o 'vilão' do 'mocinho'.

Básicamente, se trata da história de uma garota que se torna mulher em uma época e sociedade onde as mulheres não tinham tantas opções como agora. Mas como um bom filme, ele toca vários temas que transcendem o papel da mulher e da educação na sociedade.



Lembrei-me dele agora quando pensava na repercussão que deu a história da jovem brasileira que, por usar vestido curto, foi vilmente agredida com palavras e atos impróprios de uma instituição educacional. E que agora, além do assédio, sofrera também a expulsão da instituição de "ensino superior" a qual frequentava.

Ao ver tamanha falta de senso comúm, tamanha covardia, hipocresia, primitivismo e pseudo-moralismo, sinto a necessidade de falar sobre o problema 'tabú' Nº 1 no Brasil, a educação. Aquela que vem de casa e que se extende pela sociedade e prossegue-se na escola.

É sobre essa educação que gostaria de tratar neste post. Assim como no filme, onde o pai da mocinha, insiste para que a filha estude, e faça de tudo para ir à Oxford, na minha vida, meu pai sempre me ensinou que a educação era tudo na vida.

Infelizmente no Brasil, onde estudei até a 5ª série, a escola pública no bairro onde morava geralmente só funcionava três meses ao ano devido às greves, e por esta razão a qualidade de ensino, dos professores, dos livros, era tão baixa que meu pai fazia enorme sacrificio pagando mensalidades exorbitantes (quase todo seu salário ia nisso) porque acreditava no poder da educação.

No entanto, a educação real, aquela que rege a minha vida, essa começou de casa. Não só com o pedido de meus pais, para que me esforçasse ao máximo nos estudos, mas com as lições de vida que meu pai me dava nos poucos momentos compartidos com ele (já que trabalhava bastante). Assim como no filme, a falta de dinheiro era uma questão óbvia e de preocupação constante para ele.

Mas não foi só meu pai. Nem tampouco minha mãe, responsável por me supervisionar nos estudos. Mas foi também a sociedade a que foi me moldando. Sempre me lembro das vozes das pessoas na comunidade denunciando o racismo, promovendo a integração e o respeito aos mais velhos, aos que eram diferentes. Essas pessoas foram meu exemplo e o exemplo de muitos outros da minha geração. Me refiro ao motorista de nosso ônibus escolar, a moça que trabalha nele, a professora de balê, o padeiro, o moço da banca de jornal, a vizinha, e por aí vai. Talvez eu tenha sido muito sortuda nisso, pois encontrei pessoas maravilhosas que foram moldando meu caráter.

Meus professores foram apenas a continuação de uma base forte. Minha escola, apesar de excelente, fora apenas um meio. Nela aprendi o poder do pensamento livre, do questionar. De novo, não sei se foi mera sorte mais meus professores, a grande maioria deles, me ensinou a ver além da homofobia, além da religiosidade, além do fanatismo, e principalmente, além das máscaras.

Mas claro nem tudo fora perfeito. Assim como no filme, haviam problemas naquela estrutura. Mas minha educação, essa que mencionava acima, já fora ganha em casa, na comunidade, na escola.

Acredito que essa moça que sofreu assédio tivesse o mesmo desejo que um dia tive. Ela queria ter uma educação. Ela acreditou no valor da educação. Ela tentou se superar, crescer na vida, e como qualquer ser humano, queria ser melhor. Talvez ela não tenha tido muita educação, talvez tenha realmente errado (mesmo que ache que não) ao escolher um estilo de vestido "tão curto", que não cabia em sala-de-aula. Mas seja qual for sua posição, ela acreditava que seguir estudando era o caminho.

Assim também foi com essa jornalista, a retratada no filme, e comigo, achavámos que a educação iria resolver tudo, até que percebemos que na vida nem sempre é assim. O filme é realmente interessante porque te leva a pensar na realidade da vida. Na vida do dia-a-dia, onde uma boa educação vale pouco ou nada. O que vale é o nome dela, os contatos, a politicagem, o quem te indique, a esperteza, o jeitinho... até mesmo na Inglaterra, acredite se quiser.

Esta estudante de turismo que foi assediada, no entanto, não imaginaria nunca como sua vida iria mudar após entrar na universidade com aquele vestido. Ela disse que no dia que o assédio aconteceu não tinha contado nada ao pai por vergonha, que não queria que ele pensasse mal dela. Eu entendo seu temor, provavelmente ainda tivera um daqueles pais que se preocupa demais com sua imagem, ou, que provavelmente fez/faz de tudo pela educação dessa moça.

A importância de uma educação, de uma boa educação, é o que ela te ensina. Infelizmente nossa educação no Brasil é mediocre e mesquinha. Não é muito diferente daquela retratada em certas escolas americanas, em um país onde supostamente estão as melhores universidades do mundo. [Para ver um história emocionante sobre a educação nos EUA, recomendo que assistam um dos meus filmes favoritos, o Freedom Writers, baseado em uma história real]

O que aconteceu com essa moça brasileira é um reflexo da sociedade em geral que valoriza o material, os valores equivocados. O atual presidente do nosso país tem razão em debochar tal educação. Essa que se dá nas Unibans da vida. O problema é que ele confunde a boa educação com a má educação. O valor de uma educação como a que eu tive, e a que muitos tem, formada em casa e moldada com a atitude não só de gente muito bem relacionada, mas gente humilde que valoriza o bem e ensina com atitudes, é o que falta no nosso país.

É isso que faltou no exemplo da Uniban. Nosso querido artista Caetano Veloso, tem, e muita, razão em criticar a postura de nosso presidente e em apoiar uma mulher como Marina, que zela por essa boa educação. Isso não é ofensa a ninguém que não saiba ler ou escrever, muito menos, ao que mal saiba ler no Brasil. É uma crítica dura e certeira à um presidente, e a um sistema, que alimenta a falta de bom senso, e falta de uma boa educação.

No filme a mocinha percebe que apesar da esperteza e da viveza, do mundo fácil de certos alguns que rejeitam uma boa educação, a vida não é tudo mil e uma maravilhas. Ela acorda com a experiência e volta ao caminho certo. Assim espero que aconteça com essa garota. Afinal, a vida irá tentá-la no caminho fácil da fama, assim como o fez com nosso presidente.

Cabe a ela, e a sociedade, apóia-la e demostrar qual é o caminho certo. Espero que este terrível e vergonhoso episódio para a sociedade brasileira, sirva para encerrar de forma definitiva lugares de pseudo-ensino como esse, onde a moça frenquentava, onde se preza a má educação.

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