Tuesday, December 15, 2009

Chile: learning from the past, living in the present

Chile: aprendendo do passado, vivendo no presente

O Chile é aquele país delgado na costa do Oceano Pacífico, já ouviu falar? Aquele país que o professor na aula de geografia vivia repetindo que é o único da América Latina que não tem fronteira como o Brasil. Então, esse mesmo... que deveria mais bem ter sido estudado na aula de história e políticia, aliás muito bem estudado!

O Chile é um país rico em histórias; com passado dramático e profundo.

Apesar de não ser mais novo de que nenhum outro país latino-americano, o Chile, que tornou-se independente da Espanha em 1818 por conta do Libertador, o General Bernardo O'Higgins, é um país de lutas, batalhas. O pai da pátria, como é mais conhecido O'Higgins, nasceu na cidade de Chillán, que talvez você conheça por ser um popular centro de ski para brasileiros e alguns europeus, e lutou a batalha da independência na cidade de Concepción.

Foto do centro histórico de Chillán, memorial do Libertador Bernardo O'Higgins.

Conheço as duas cidades muito bem. Quando primeiro cheguei ao Chile, em 1990, o país saia pela primeira vez da ditadura militar do General Pinochet e fui morar nessa minúscula cidade, Chillán. Meu pai e sua familia são dalí. Já Concepción, é cidade vizinha do porto de Talcahuano, lugar onde se travou muitas batalhas. Até hoje pode-se, por exemplo, ver o navio Huáscar, que representa a vitória na batalha naval onde o Chile derrotou o país vizinho, o Perú, geralmente motivo de orgulho no país. Concepción é a cidade de minha mãe e sua familia.

Chillán, uma cidade de aproximadamente 253.000 habitantes , é cercada pela Cordilheira dos Andes. Concepción, a segunda maior cidade do Chile, depois da capital, Santiago, com uma população de cerca de 900.000, é próxima ao oceano Pacífico. A distância entre as cidades hoje em dia é mínima. Pode-se chegar de um extremo a outro, da cordilheira ao mar, em aproximadamente 2.5 horas.

Um país de extremos, o Chile, tem de um lado desertos e no outro geleiras. O Norte, a região, árida possui um dos desertos mais cálidos do mundo com temperaturas de até 45º C durante o dia, que caem abruptamente à noite fazendo com que a diferença chegue a ser de até 50º! O deserto do Atacama é maravilhoso e pessoas de todo o mundo o visitam pela sua grandiosidade. O Sul, a região que cerca a Antártica, é conhecidíssima por cientistas que dia trás dia observam e estudam o mundo, o planeta e o universo de lá. Mas o Chile é mais do que isso. Seus extremos não se encontram só na natureza. As pessoas são as mais amavéis e e fortes que já conheci.

O país seja no Norte ou no Sul, no mar ou na cordilheira, já viveu muito em seus quase 200 anos de história desde sua independência. Tem muito para contar. Uma história de sangue, de lutas, de perdas e vitórias, contra seus vizinhos, contra sí mesmos. Este país não é singelo, seus habitantes embora desconhecidos pela grande maioria do mundo e, às vezes, até da América Latina, não são nada fragéis. Receberam como herança o melhor e pior do capitalismo. Vivem na pele a desigualdade e a suposta "estabilidade" financeira. E lutam com garra pela igualdade social desde sua emancipação.

As marcas do passado estão em todas partes, nas pessoas, nas empresas, nos partidos políticos, nas ruas, mas também a nova geração vê-se por fim livre delas e não querem mais nada com o ele, com o passado. O país por fim solta-se das amarras da repressão, da censura e vive intensamente sua liberdade, tão desejada, tão verenciada. O Chile hoje dá valor ao que não tem. A liberdade é como o ar, que quando não se tem, te asfixia e os chilenos viveram quase asfixiados por anos.

Me extendería muito se fosse explicar os motivos para a perda dessa liberdade. Mas posso dizer com certeza e apoio dos livros de história e provas reconhecidas pelo mundo afora que parte, grande parte, dessa perda se deve aos EUA. Mas também boa parte da perda ou ganho, talvez seja por conta de chilenos, como Pinochet, por exemplo. Nunca saberemos como seria o país de Allende, se o socialismo que ganhou nas eleições de 1970 e que levaram meus pais e muitos outros indivíduos, como Pablo Neruda, ao exílio e outros à morte, seria tão ou mais cruel quanto o de Cuba hoje, completamente isolado e limitado em liberdade. Ou se teria sido tão democrático quanto o que vimos recentemente no termo de Michelle Bachelet, uma socialista.

É que o Chile, apesar de ser um dos melhores países em termos de estabilidade socio-econômica na América Latina, não é diferente de outros em termos de distribuição de riquezas. O Norte rico em mineiros sigue sendo explorado, pessoas continuam a ganhar bem abaixo da média em todo o país, a educação e outros benefícios socias como a saúde pública continuam ser questões que o mantém em posição de terceiro mundo.

Mas há uma diferença. Uma grande diferença. E não é racial, como gostam de pensar os argentinos, que na grande maioria se distanciam da descrição de latino, por se identificarem com os europeus. A diferença é de atitude. Alí se respeita o passado, se aprende com ele. Os jovens hoje em dia o ignoram mas não por falta de conhecimento, mas por querer romper com o velho e abrir novos caminhos.

Só assim para viver um presente pleno e consciente. Só assim pode-se ter não só esperança mas fé que o futuro será diferente. Se no passado estão os grandes conflitos, as grandes dores e lutas, os chilenos sabem que no presente se encontra a verdadeira alma do futuro: tentam evitar os erros, avançam com erros e acertos, mas sempre com os pés no chão, sem esquecer do passado que não lhes impede de abraçar o futuro repleto de novidades e diferenças.

Minha experiência pessoal no Chile foi também marcada de importantes lições. Elas definem meu presente e me servem de guia. O sofrimento, a dor da "perda" e as adversidades da vida, eu conheci de perto quando lá vivi. No Chile aprendi. Aprendi bem mais do que jamais poderia ter pensado aprender. Por mim, nunca teria deixado o Brasil, meu país natal, mas se não tivesse sido pelo Chile, meu passado, a terra dos meus pais, nunca teria aprendido. É só através do passado que a gente pode realmente viver o presente e assim ter um futuro melhor.

O Brasil precisa acordar para as lições do passado sem tirar os pés do presente. Precisa avançar e, de fato, avança, mas não pode ignorar que uma das mais grandes lições de seu passado: a liberdade não tem preço.

Fonte da foto: Site do TravelPod.

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